sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O cabelo do engenheiro

Entrei na barbearia e, como de costume, perguntei quantos interessados aguardavam vez e qual era o último. Prontamente o senhor João me esclareceu:
- Tem três à sua frente e mais o que está na cadeira.
- Eu espero! respondi. E peguei num jornal, por força de hábito, porque como quase sempre, era de três semanas atrás.
Os clientes iam conversando, de tudo e de nada como é vulgar em barbearia que se preze. De futebol e das tropelias dos árbitros; da política e dos tachos na mesma; da agricultura e da falta ou do excesso de água; de doenças e de remédios que são cada vez mais caros. Conversa sempre alimentada pelo mestre barbeiro que pergunta e responde sem deixar de manobrar a tesoura ou a máquina.
Só algum tempo depois reparei na pessoa que estava sentada na cadeira e que era minha conhecida.
Terminado o trabalho o cliente levantou-se e dirigiu-se-me:
- Como está?
- Estou bem, senhor engenheiro! respondi. E conversámos uns minutos sobre assuntos passados que ambos conhecíamos.
- Então muito boa tarde, despediu-se ele de todos, e saiu.
O senhor João continuou o trabalho e quando chegou a minha vez, accionou a rotina de sacudir a almofada e ajeitou-me a toalha no pescoço. Já, então, não havia mais ninguém na barbearia.
- Aquele senhor que estava na cadeira quando entrou, é engenheiro? Perguntou-me como se lhe tivesse acontecido algo de incomum.
- É sim senhor. Trabalhámos na mesma empresa!
- Não sabia. Veja como são as coisas, já vem aqui há bastante tempo e eu não sabia!
- Acontece, não é senhor João?
Não tenho a certeza, mas estou em crer que mestre João terá comentado lá para com o seu íntimo, enquanto listava mentalmente a clientela: - Engenheiro, hã…!

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